Demência artificial

 

 

 

Depois de anos acreditando que as máquinas poderiam pensar, os cientistas finalmente abandonaram a idéia. E agora?

 

 

 

Jason Pontin

3/4/2001 23:00 EST

 

 

 

 

1.0 Cientistas da computação, com mais de 40 anos de idade, foram atraídos para essa área por causa da promessa da Inteligência Artificial. Este é um fato inédito: os pioneiros na revolução da computação e das comunicações, cujas biografias descrevem toda uma infância de leitura de ficção científica, que começaram a escrever código nos anos 60 gostavam de computadores, porque acreditavam que computadores digitais de alta velocidade, programados com regras e fatos, poderiam simular a inteligência humana.

 


1.01 Porque estavam eles tão encantados? Oh, quem poderia saber? Mas o sonho de criar máquinas inteligentes está ligado a profundos anseios atávicos - o desejo de se apropriar dos poderes criativos de Deus, o desejo de entender a própria consciência - e isso tem uma longa história. A tradição cabalística dos judeus fala de um Rabino que construiu o golem, um homem artificial, feito de lama. O matemático vitoriano Charles Babbage, projetou um "Mecanismo analítico", que ele imaginou poder aprender a escrever sonetos e sonatas. Em 1950, quando os computadores não eram mais do que dispositivos de manipulação de símbolos, o matemático britânico Alan Turing publicou  "Máquinas e Inteligências de Computação", onde perguntava: "As máquinas podem pensar?" - e respondia que sim.

 


2.0 Acompanhando Turing, entusiastas da computação como o Prêmio Nobel, Herbert Simon, economista (que faleceu em fevereiro passado), disseram que quaisquer atividades humanas como a fala ou a visão, poderiam ser reduzidas a uma série de instruções que poderiam ser programadas em um computador. À medida em que mais áreas do conhecimento eram conquistadas, pensava-se que as áreas iriam se sobrepor e quando suficientes campos de atividade fossem descritos digitalmente, era de se supor que os computadores iriam pensar.

 


2.01 Será que os cientistas da computação acreditavam que esses dispositivos iriam realmente ter consciência? Eles provocaram um forte desdém pela questão: os computadores poderiam parecer inteligentes, o que é tudo o que (diziam eles) alguém pode dizer sobre qualquer pessoa.

 


2.1 À medida que os computadores cresciam em potência e velocidade, o novo campo da inteligência artificial (I.A) se expandia rapidamente. Pelos anos 70, ali já havia programas de PhD., comunidades profissionais e homens famosos. Um deles, Marvin Minsky,  presidente de departamento de I. A. do  mit,  expressou a disposição geral dos cientistas da computação, ao declarar, em 1967 que - "dentro de uma geração, a questão da criação da inteligência artificial será substancialmente resolvida."
 

 

2.2 Por um tempo, as coisas iam bem: os cientistas da computação escreveram programas promissores, que permitiam que os computadores se comunicassem num inglês simples, porém natural.

 


3.0 Então, tudo ficou mal. Após 50 anos de esforços, as pesquisas baseadas na noção de que os seres humanos produzem inteligência usando fatos e regras, chegou a um impasse e não havia razão para pensar que um computador, usando tais regras, pudesse vir a ser construído. Hoje em dia, os computadores não efetuam tarefas inteligentes que as crianças mais novas concluem com facilidade. No jargão acadêmico, I. A. é "um projeto de pesquisa em declínio". Em 2001, não se encontra hal, o computador de 2001: Uma Odisséia no Espaço em lugar nenhum.

 


4.0 O que houve de errado? Não se tem certeza, mas talvez os humanos não usem regras para pensar.

 


4.1 Mesmo no jogo de xadrez, uma área da máquina de inteligência que tem gozado de algum sucesso, onde é possível criar-se um programa baseado em regras, capaz de derrotar a Kasparov, os humanos parecem aprender as regras do jogo e até superá-las. Um grande mestre não concebe um jogo vencedor, a partir de seu conhecimento sobre como os bispos e as  torres se movimentam. Em vez disso, ele intui os melhores movimentos, pelo reconhecimento, como que de um padrão, das diferentes conseqüências que os movimentos poderiam trazer.

 


4.2 O processo parece ser de alguma forma irracional, ou pelo menos não baseado no processamento dos dados, de acordo com as regras. Um pouco disso parece acontecer também, quando os poetas dizem que seus versos são inspirados, ou quando os matemáticos nos dizem que sabiam que a solução estava correta, antes de entender a sua comprovação.

 


4.3 A Inteligência Artificial também propõe uma teoria da inteligência que ignora o fato de que possuímos corpos, uma vez que os computadores até o momento não têm nenhum. Por corpos, pretende-se dizer não apenas braços e pernas, mas a maneira como pensamos com nossos olhos e ouvidos, e como aprendemos a ser inteligentes como bebês, utilizando os nossos corpos. Talvez a inteligência, como a entendemos, não possa existir sem os corpos. 

 


5.0 Muito embora a I.A. tradicional tenha sido abandonada, a rede de conexão neural tem mostrado que os computadores podem aprender. Essa rede neural, que explodiu como uma bomba nas ciências da computação nos anos 80, esquiva-se das regras como um todo. Ela não armazena casos gerais; em vez disso, há uma "rede de percepção multi-camadas" (em outras palavras, um sistema massivo paralelo, que pode, como o cérebro humano, descrever vários níveis de informação simultaneamente), respondendo a novas situações, por métodos que são extrapolações apropriadas das respostas que foram anteriormente aprendidas. Essas redes autodidatas têm sido usadas pelo exército americano para o reconhecimento de tanques numa floresta, pelas companhias de cartão de crédito para detecção de fraudes e pelos bancos para montagem de um gerenciamento de relações com os clientes (CRM), um software que antecipa os desejos individuais dos clientes. O software é real e comercial. 

 


5.1 As redes neurais realizam esses aplicativos muito mais rápida, precisa e tranqüilamente do que os humanos poderiam fazer. Mas pelo fato de elas não possuírem nenhuma regra, não se pode dizer que elas entendam alguma coisa. Elas não possuem senso comum. Até agora (e a tecnologia detém a capacidade de surpreender), a inteligência das máquinas provou ser completamente diferente da inteligência humana. É rápida, poderosa, infalível e superficial. A inteligência humana parece ser o contrário.
 

 

6.0 Além disso, existe um meio mais fácil e mais antigo de reproduzir a inteligência humana: o sexo.